Logo após a Missa da manhã de sábado, 3 de fevereiro, Padre Sebastien Yebo foi levado à força por autoridades policiais na República Democrática do Congo, país que vive um clima de grande “tensão entre o governo e a Igreja”, que tem por base a “permanência no poder do presidente Joseph Kabila”.

Segundo informou a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), Pe. Yebo foi agredido e levado pela polícia, permanecendo sob o poder das autoridades durante algumas horas.

Uma religiosa que não se identificou declarou à agência de notícias AFP que o sacerdote passionista e pároco da Igreja de St. Robert estava saindo da Igreja quando “chegou um veículo da polícia, de onde saíram agentes que começaram a bater” nele.

Em seguida, as autoridades policiais “obrigaram-no a entrar no jipe e levaram-no com eles”, confirmou relatou a religiosa que presenciou a agressão.

No último domingo, Pe. Sebastien Yebo contou à AFP que foi libertado no próprio sábado. “Estou livre desde ontem por volta das 16 horas”, depois de “minha detenção pela polícia”, afirmou o presbítero.

“O motivo da detenção me foi informado no local. Era sobre uma estranha história na qual não me reconheço”, declarou o sacerdote, especificando que afirmaram que ele era “o financiador dos Kamwina Nsapu”.

“Onde encontraria o dinheiro, eu, que sou pobre?”, acrescentou.

Conforme explica AFP, os Kamwina Nsapu são milicianos de um movimento rebelde que enfrentaram as forças de segurança em Kasai, no centro do país, em 2016 e 2017.

Esta violência teria se desencadeado após a morte do chefe dos Kamwina Nsapu em setembro de 2016, deixando mais de 3 mil mortos, segundo a Igreja católica.

Clima de tensão no país

A Fundação ACN ressaltou que a detenção de Pe. Sebastien Yebo se deu “em um momento de particular tensão entre o governo e a Igreja, por causa das manifestações realizadas no último dia do ano passado e a 21 de janeiro, contra a permanência no poder do presidente Joseph Kabila”.

Tais protestos foram promovidos pelo Comitê de Coordenação de Leigos, uma organização de leigos católicos que pede ao presidente Joseph Kabila uma declaração afirmando que não se candidatará para outro mandato.

De acordo com a Constituição de 2006 desse país, Kabila, quem está no poder desde 2001, não pode voltar a se candidatar. Além disso, seu mandato deveria ter terminado em 20 de dezembro de 2017, mas ainda não foram convocadas novas eleições.

Por sua vez, a Igreja tem defendido a realização de “eleições livres” no país, para que a população possa decidir democraticamente.

Tanto as manifestações de 31 de dezembro quanto as de 21 de janeiro, ressalta a ACN, “tiveram também o apoio de igrejas evangélicas assim como de elementos da comunidade muçulmana”.

Essas manifestações foram fortemente reprimidas pelas autoridades, provocando ao menos 15 mortos, segundo dados das Nações Unidas.

No dia 21 de janeiro, ao menos 6 pessoas morreram, entre as quais, uma jovem de 16 anos que se encontrava na porta de uma igreja.

Conforme pontua a Fundação ACN, “a reação policial, violenta e excessiva, tendo em conta que se tratou de manifestações pacíficas, está causando grande constrangimento em diversos setores da sociedade congolesa, nomeadamente na Igreja”.

Nas manifestações de janeiro, por exemplo, houve ataques diretos contra católicos. Padre Apollinaire Cibaka Cikongo, professor do Seminário de Cristo Rei, em Malole, na província de Kasai Central, relatou à Fundação ACN que “o exército e a polícia dispararam em paroquianos durante a Santa Missa, quando estavam prestes a participar na marcha pacífica organizada pelo Comitê de Coordenação de Leigos, liderado por alguns dos professores universitários católicos”.

Diante dessa situação, o Papa Francisco pediu em diferentes ocasiões pela paz na República Democrática do Congo.

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No último domingo, 4 de fevereiro, o Pontífice convocou os fiéis a um dia de jejum e oração pela paz, a ser realizado no próximo dia 23 de fevereiro, o qual será oferecido especialmente “pelas populações da República Democrática do Congo e do Sudão do Sul”, ambos países africanos atingidos por conflitos civis.

“Como em outras ocasiões similares, convido também os irmãos e irmãs não católicos e não cristãos para se associarem a esta iniciativa nas modalidades que considerarem mais oportunas”, acrescentou.

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