O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes do Congresso Internacional ‘Laudato Si’ e Grandes Cidades, que acontece no Rio de Janeiro, na qual indica os três “R” que ajudam o homem a “atuar de forma conjunta diante dos imperativos mais essenciais de nossa convivência”: respeito, responsabilidade e relação.

A segunda edição do Congresso Internacional está sendo realizada de 13 a 15 de julho, na Arquidiocese do Rio de Janeiro, com o objetivo de abordar as questões ecológicas e ambientais das metrópoles no planeta. As conferências tem enfoque em três palavras chaves: água, ar e resíduos.

O evento conta com apoio da Arquidiocese do Rio de Janeiro e é organizado pela Fundação Antoni Gaudi para as Grandes Cidades, localizada em Barcelona (Espanha), a qual tem por objetivo contribuir para a humanização dos grandes centros urbanos.

Participam prefeitos das grandes cidades de vários países, secretários de Meio Ambiente e Urbanismo, reitores das maiores universidades do Brasil, professores, universitários e líderes religiosos de diferentes denominações.

Entre as autoridades presentes estão o Arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, Cardeal Peter Turkson, o Arcebispo emérito de Barcelona, Cardeal Lluís Martínez Sistach, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, entre outros.

Confira a seguir a íntegra da mensagem do Papa Francisco:

A sua Eminência o Cardeal Lluis Martínez Sistach, Arcebispo emérito de Barcelona

Vaticano, 12 de junho de 2017.

Querido irmão,

O saúdo atentamente, como também a todos os que participam do evento: Congresso Internacional “Laudato si e Grandes Cidades”.

Na Carta encíclica Laudato si faço referência a várias necessidades físicas que o homem de hoje tem nas grandes cidades e que necessitam ser afrontadas com respeito, responsabilidade e relação. São três “R” que ajudam a atuar de forma conjunta diante dos imperativos mais essenciais de nossa convivência.

O respeito é a atitude fundamental que o homem há de ter com a criação. Esta a recebemos como um dom precioso e devemos esforçar-nos para que as gerações futuras possam seguir admirando-a e desfrutando-a. Este cuidado devemos ensiná-lo e transmiti-lo. São Francisco de Assis afirmava em seu Cântico às criaturas: “Louvado sejas, meu senhor, pela irmã água, a qual é muito útil, humilde, preciosa e casta”. Nestes adjetivos se expressa a beleza e importância deste elemento, que é indispensável para a vida. Como outros elementos criados, a água potável e limpa é expressão do amor atento e providente de Deus por cada uma de suas criaturas, sendo um direito fundamental, que toda sociedade deve garantir (cf. Laudato si, 30). Quando não se lhe presta a atenção que merece, se transforma em fonte de enfermidades e sua escassez põe em perigo a vida de milhões de pessoas. É um dever de todos criar na sociedade uma consciência de respeito por nosso entorno, isto beneficia a nós e as gerações futuras.

A responsabilidade diante da criação é o modo com o qual devemos atuar com ela e constitui uma de nossas tarefas primordiais. Não podemos ficar com os braços cruzados, quando advertimos uma grave diminuição da qualidade do ar ou o aumento da produção de resíduos que não são adequadamente tratados. Essas realidades são consequência de uma forma irresponsável de manipular a criação e nos chamam a exercer uma responsabilidade ativa para o bem de todos. Além disso, comprovamos uma indiferença diante da nossa casa comum e, lamentavelmente, diante de tantas tragédias e necessidades que golpeiam a nossos irmãos e irmãs. Essa passividade demostra a “perda daquele sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes sobre a qual se funda toda a sociedade civil” (Laudato si, 25). Cada território e governo deveria incentivar modos de atuar responsáveis em seus cidadãos para que, com criatividade, possam atuar e favorecer a criação de uma casa mais habitável e mais saudável. Colocando cada um o pouco que lhe corresponde em sua responsabilidade, se estará ganhando muito. 

Observa-se nas grandes cidades, como também nas zonas rurais, uma crescente falta de relação. Com independência da causa que o produz, o fluxo constante de pessoas gera uma sociedade mais plural, multicultural, que é um bem, produz riqueza e crescimento social e pessoal; porém, também faz com que esta sociedade seja cada vez mais fechada e desconfiada. A falta de raízes e o isolamento de algumas pessoas são formas de pobreza, que podem degenerar em guetos e originar violência e injustiça. Contudo, o homem está chamado a amar e ser amado, estabelecendo vínculos de pertença e laços de unidade entre todos os seus semelhantes. É importante que a sociedade trabalhe conjuntamente em âmbito político, educativo e religioso para criar relações humanas mais cálidas, que derrubem os muros que isolam e marginam. Isto se pode conseguir através de grupos, escolas, paróquias, etc., que sejam capazes de construir com sua presença uma rede de comunhão e de pertença, para favorecer uma melhor convivência e conseguir superar tantas dificuldades. Dessa maneira, “qualquer lugar deixa de ser um inferno e se converte no contexto de uma vida digna” (Laudato si, 149).

Peço a intercessão da Virgem Santa, Rainha do céu e da terra, por essas jornadas de estudo e de reflexão. Que seu conselho e guia oriente suas decisões em favor de uma ecologia integral que proteja nossa casa comum e construa uma civilização cada vez mais humana e solidária.

Por favor, peço-lhes que rezem por mim e peço ao Senhor que vos abençoe.

Francisco

Mais informações sobre o Congresso podem ser acessadas no site da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

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