O Presidente da Conferência Episcopal da Federação Russa e Arcebispo de Moscou, Dom Paolo Pezzi, assinalou que uma visita do Papa Francisco à Rússia já não seria mais um problema, depois que o Pontífice teve um encontro com o Patriarca ortodoxo Kirill em Cuba, em fevereiro de 2016.

Em 12 de fevereiro do ano passado, durante a viagem apostólica ao México, o avião que levava Francisco fez escala no aeroporto de Havana, onde o Pontífice teve um encontro privado com o líder ortodoxo, que durante aqueles dias visitava seus fiéis na ilha caribenha.

Após a reunião, ambos os líderes emitiram uma declaração conjunta na qual expressaram seu desejo de que este encontro “contribuísse para a unidade querida por Deus” e “inspire os cristãos de todo o mundo a invocar com novo ardor o Senhor, rezando pela plena unidade de todos seus discípulos”.

Depois de vários séculos de separação entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, os primeiros contatos para uma aproximação chegaram com João XXIII, que convidou o Patriarca russo Pimem a enviar uma delegação como observadora no Concílio Vaticano II.

Ao terminar o Concílio, criou-se uma comissão mista que, apesar de ser rica em experiências, teve poucos resultados durante a liderança ortodoxa de Alexis II, que acusou constantemente a Igreja Católica de um suposto proselitismo e que era contra uma visita de São João Paulo II à Rússia, apesar dos vários gestos do falecido Pontífice para com a Igreja Ortodoxa Russa.

Nesse sentido, durante o V Fórum Católico-Ortodoxo de Paris (França), Dom Pezzi disse à agência SIR: “Acredito que depois de Cuba, depois da repercussão desta visita que não foi fácil para a Igreja Ortodoxa Russa, hoje podemos dizer que uma visita do Papa à Rússia não seria mais um problema”.

Em suas declarações difundidas no dia 11 de janeiro, o Arcebispo disse que não sabe quanto tempo deverá esperar, “mas penso que se pode perceber que não é vista como problemática”. Indicou que a “repercussão” que teve em alguns ambientes ortodoxos o encontro em Cuba “foi bem absorvido”.

“Não eram muitos, mas eram muito barulhentos”, acrescentou. Entretanto, disse que isso já faz parte do passado e, além disso, permitiu sobretudo ao Patriarca Kirill “dizer novamente as razões desse encontro”, que foram convincentes.

“Também podemos continuar a discussão se o encontro foi político, cultural, de fé, mas certamente esta onda de impacto muito forte já passou e deixou especialmente uma tranquilidade maior sobre o fato de que Francisco possa visitar a Rússia”, acrescentou Dom Pezzi.

O Arcebispo de Moscou indicou que com relação a este aspecto o Papa é “muito discreto”. “Nunca o escutei dizer ‘eu queria, eu gostaria de ir’. Certamente gostaria de encontrar o Patriarca Kirill. E que isto aconteça em Moscou, Roma, está bem. Mas é muito discreto, para não forçar”, assinalou.

Em seguida, disse que depois do encontro em Cuba, as relações ecumênicas entre ambas as confissões são “boas, construtivas e amigáveis”, com “um grande desejo de conhecimento recíproco”.

Entretanto, a nível institucional “as coisas não são iguais em todos os lugares”. Disse que há cidades onde “os bispos ortodoxos não consideram favorável e positivamente uma colaboração”, mas “a nível mais centralizado, devo dizer que as minhas relações pessoais com o Patriarca e o metropolita Hilarión são boas, cordiais e sempre construtivas”.

Por isso, disse que a busca da unidade dos cristãos necessita de passos essenciais, como por exemplo, “não ter medo de se encontrar”. “De um ponto de vista teológico, há várias comissões que levam adiante um diálogo teológico”, recordou.

“Mas acredito que este trabalho requer tempo e que o acordo teológico será o último a acontecer, porque, na verdade, as diferenças são pouquíssimas e normalmente quando as diferenças são poucas, o risco é que aumentem para ter algo do que falar”, declarou.

Aspectos pastorais e sacramentais

Em seu diálogo com a agência SIR, o Arcebispo de Moscou afirmou que do ponto de vista pastoral já foram dados alguns passos, “há outros que são esperados e outros que devem ser dados”.

“Aqueles passos que esperamos dar em breve estão relacionados sobretudo ao cuidado e à defesa da vida e da família”, indicou; e no futuro o objetivo é chegar a “desenvolver uma pastoral familiar juntos, especialmente porque temos matrimônios mistos”, assim como realizar “uma jornada com os jovens para poder realizar um anúncio juntos”.

Entretanto, disse que “há um aspecto mais delicado que é o sacramental”. Recordou que “no passado houve períodos históricos nos quais permitiam que certos sacramentos pudessem, em caso de necessidade, ser recebidos na Igreja diferente a de pertença. Agora, isto, na minha opinião, não é impossível. Difícil, mas não impossível”.

“Não estou falando da intercomunhão, ou seja, de uma concelebração eucarística comum, porque se requer que para isto haja uma comunhão real entre as Igrejas. Estou falando da possibilidade que em determinadas condições de necessidade os fiéis possam receber o batismo, a comunhão, a confissão recebida na outra Igreja”, explicou.

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