Na manhã desta sexta-feira, a Santa Sé publicou a exortação apostólica Amoris Laetitia (AL), “A alegria do amor: sobre o amor na família”, fruto dos Sínodos realizados em 2014 e 2015; e que entre outras coisas, reafirma que o matrimônio é a união entre um homem e uma mulher, e chama sacerdotes e agentes pastorais a acompanhar os fiéis em situação irregular para que saibam e sintam que fazem parte da Igreja.

Como este é um documento extenso, com cerca de 270 páginas, apresentamos a seguir nove chaves que a Santa Sé ofereceu para ajudar na sua leitura e compreensão.

1. Que novidade traz a exortação Amoris Laetitia?

A novidade desta exortação é a atitude de acompanhamento. O Papa Francisco, assim como seus predecessores, reconhece a complexidade da vida familiar moderna, mas acentua muito mais a necessidade de que a Igreja e seus ministros estejam perto das pessoas independentemente da situação em que se encontrem ou quão afastados possam se sentir da Igreja. Amoris Laetitia não é um texto teórico desligado dos problemas concretos das pessoas.

O documento também recorda a beleza da vida familiar, apesar de todos os problemas que suporta.

Francisco escreve sobre como formar uma família significa fazer parte do sonho de Deus, unindo-se a Ele na construção de um mundo ‘onde ninguém se sinta sozinho”.

2. É um documento para todos os católicos ou só para os peritos?

Amoris Laetitia é uma leitura essencial para bispos, sacerdotes e agentes da pastoral familiar. Entretanto, o Papa Francisco assinala na introdução que ninguém deveria precipitar-se em sua leitura e recomenda que as pessoas devem prestar atenção ao que corresponde mais às suas necessidades. Por exemplo, aos casais casados interessará especialmente o Capítulo IV sobre o amor no matrimônio, a fecundidade e a educação dos filhos.

Como podemos ver em suas páginas, os leitores verão que Francisco, com um coração de pastor, entra de forma simples, mas profunda nas realidades cotidianas da vida familiar.

3. Divorciados em nova união e comunhão

O Sínodo apurou que as discussões sobre ganhadores e perdedores não eram produtivas. Ao invés disto, o que seria produtivo, seria dirigir um olhar profundo à vida familiar, ao matrimônio e ao Povo de Deus que se esforça por viver sua vocação em tempos difíceis e complexos.

O Capítulo VIII, “Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade”, analisa profundamente como as regras gerais não se aplicam estritamente a cada situação particular. E por isso é necessário ter em conta a complexidade de cada situação.

O Papa reconhece que todos devem sentir-se desafiados pelo Capítulo VIII que, certamente, chama os pastores e os que trabalham no apostolado da família a escutar com sensibilidade qualquer pessoa que se sinta ferida e ajudá-la a experimentar o amor incondicional de Deus.

4. Uma palavra recorrente é “discernimento”. O que significa discernimento para o Papa Francisco?

O discernimento é um esforço constante para abrir-se à Palavra de Deus que ilumina a realidade concreta da vida cotidiana. O discernimento nos leva a ser dóceis ao Espírito.

O Papa Francisco pede aos pastores e aos fiéis para que discirnam cuidadosamente cada situação concreta, pois não há receitas fáceis, nem “tamanho único”, nem exceções rápidas e simples.

Entretanto, o discernimento não deve se separar das exigências de verdade e da caridade do Evangelho nem dos ensinamentos e da tradição da Igreja. São necessárias a humildade e a busca sincera da vontade de Deus.

5. O que oferece a Amoris Laetitia aos católicos divorciados em nova união?

A exortação lhes dá a garantia de que a Igreja se preocupa com eles e pela sua situação concreta; quer que saibam e sintam que são parte da Igreja e que não estão excomungados. Embora ainda não possam participar plenamente na vida sacramental da Igreja, anima-lhes a fazer parte ativamente da vida da comunidade.

Um conceito chave da AL é a integração. Os pastores devem fazer tudo o que for possível para ajudar as pessoas nestas situações a participar na vida da comunidade.

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Além disso, assinala que qualquer pessoa que estiver em uma situação “irregular” deveria receber uma atenção especial. “Ajudar a curar as feridas dos pais e sustentá-los espiritualmente é bom também para os filhos, que precisam do rosto familiar da Igreja que os ampare nesta experiência traumática” (AL 246).

6. Uniões homossexuais

O ensinamento da Igreja continua sendo claro: o matrimônio é entre um homem e uma mulher e as uniões homossexuais não se podem equiparar ao matrimônio cristão.

O documento centra a atenção no matrimônio e na família, mas também se dirige às pessoas que não estão casadas, como os pais e mães solteiros, viúvas e viúvos, homens e mulheres solteiros, pois todos têm laços familiares.

7. Amoris Laetitia critica os pontificados anteriores em temas de família?

Uma rápida olhada às notas de rodapé mostra a profusão de textos de São João Paulo II na Amoris Laetitia, especialmente da encíclica Familiaris Consortio. O Papa Francisco também cita Deus Caritas est, de Bento XVI.

Além disso, este documento oferece esperança em abundância. Não é uma lista de regras ou de condenações, mas um chamado à aceitação e ao acompanhamento, à participação e à integração.

“O caminho da Igreja é o de não condenar a ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero” (AL 296).

8. Fecundidade no matrimônio

Em vários numerais este documento faz grande insistência em que os filhos são um dom de Deus e uma grande alegria para os pais. Também cita a encíclica Humanae Vitae, reiterando que os cônjuges devem ser conscientes de suas obrigações em relação à paternidade responsável.

Em último termo, a decisão sobre o espaçamento dos nascimentos “pressupõe um diálogo consensual entre os esposos” (AL 222).

Neste sentido, AL cita o Concílio Vaticano II, sublinhando a importância da formação da consciência, na qual se sinta a sós com Deus. Além disso, impulsa os métodos naturais de regulação dos nascimentos.

9. Qual é o maior desafio da Amoris Laetitia?

O maior desafio é que seja lida sem pressa e seja colocada em prática. O texto formula propostas à Igreja e aos seus pastores para que acompanhem a família, integrem-na, permaneçam perto de qualquer pessoa que tenha sofrido os efeitos do amor ferido. E, sobretudo, desafia a ser compreensivos frente a situações complexas e dolorosas.

O Papa Francisco quer que nos aproximemos dos frágeis com compaixão e não com julgamentos, para “entrar em contato com a existência concreta dos outros e conheçamos a força da ternura”.

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