O apoio secreto do Papa Pio XII a tentativas de derrocar o ditador nazista Adolf Hitler é o tema de um novo livro, que aborda documentos de guerra e entrevistas com o agente de inteligência americana que os escreveu. O título do livro (tradução livre) é “A Igreja dos Espiões: A guerra secreta do Papa contra Hitler”, do historiador Mark Riebling.

“Este livro é a verdade –o melhor que pude expô-la após vários anos de investigação– sobre as operações secretas do Papa na Segunda guerra mundial”, assegurou a ACI Digital o autor.

A principal premissa do livro, explicou Riebling, “é que Pio decidiu resistir a Hitler com uma ação encoberta em vez de protestar abertamente. Como resultado, envolveu-se em três diferentes complôs dos dissidentes alemães para eliminar Hitler”.

“Pensei que esta ideia –que a Igreja esteja envolvida em operações secretas durante os anos mais sangrentos da história, na parte mais controvertida de sua história recente– não era só uma nota ao pé de página, era algo que valia a pena investigar”, disse.

No final da década de 1990, o debate sobre Pio XII e se ele fez o suficiente para combater os nazistas alcançou o ponto mais alto com a publicação do livro profundamente controvertido chamado “O Papa de Hitler”, do jornalista britânico John Cornwell.

Esse texto foi muito crítico com Pio XII, acusando-o de sustentar um silêncio culpado –ou até mesmo cúmplice– durante o auge do nazismo, quando na verdade ajudou a salvar a mais de 800 mil judeus neste período.

“Até os maiores críticos da Igreja na época nazista, ao menos os principais deles, admitem que Pio XII odiava Hitler e trabalhou secretamente para derrocá-lo”, disse Riebling. Durante sua investigação para um livro prévio, sobre a “guerra secreta entre o FBI e a CIA”, o historiador descobriu documentos de guerra que relacionavam o Papa Pio XII com tentativas de derrocar Hitler.

“Havia ao menos dez documentos implicando Pio XII e seus conselheiros mais próximos em não só um, mas três complôs para eliminar a Hitler –que se estendem de 1939 até 1944.

De acordo com Riebling, seu livro não denuncia que o Papa “tentou matar Hitler”. As ações do Papa foram mais sutis.

“Pio se converte em uma peça chave nas conspirações para eliminar um governante que é uma sorte de anticristo, porque as boas pessoas pedem sua ajuda, e ele procura em sua consciência, e aceita converter-se em um intermediário para os conspiradores –um tipo de agente estrangeiro–, e portanto se converte em um cúmplice de seus complôs”.

Pio XII teve conexões com três complôs contra Hitler. O primeiro, de outubro de 1939 a maio de 1940, envolveu a conspiradores militares alemães. De fins de 1941 à a primavera de 1943, uma série de complôs que envolveram a jesuítas alemães culminaram em uma bomba plantada no avião de Hitler que não explodiu.

O terceiro complô envolveu jesuítas alemães e também o coronel militar alemão Claus von Stauffenberg. Embora o coronel tenha colocado com sucesso uma bomba perto do ditador nazista, não conseguiu matar Hitler. Os sacerdotes tiveram que escapar depois do atentado fracassado.

Em um ponto, Hitler planejou invadir o Vaticano, sequestrar ao Papa e levá-lo a Alemanha. O líder nazista Heinrich Himmler “queria realizar uma execução pública do Santo Padre para a inauguração de um novo estádio de futebol”, disse Riebling.

“Pio se deu conta destes planos, através de seus agentes papais secretos; e, em minha opinião, isso influenciou a decisão do Santo Padre de envolver-se com a resistência anti-nazista”.

“Sabendo o que sei sobre Pio XII, e havendo-o investigado durante muitos anos, acredito que ele queria ser santo. Queria que o povo da Alemanha fosse santo”, acrescentou.

“Quando ele escutava que um sacerdote foi detido por rezar pelos judeus e enviado a um campo de concentração, dizia ‘quisera que todos fizessem o mesmo”. Esta frase, jamais foi dita em público, reconheceu o historiador, mas deixou por escrito em uma carta secreta aos bispos alemães.