O Papa Francisco dedicou sua última catequese sobre o matrimônio e família na Audiência Geral desta quarta-feira à comunidade conjugal formada por um homem e uma mulher, origem e base “desta cultura mundial que nos salva de tantos ataques, tantas destruições, tantas colonizações” e aos quais foi confiada a criação.

Duas semanas antes do início do Sínodo Ordinário sobre a Família (de 4 a 25 de outubro) e poucos dias antes do Encontro Mundial das Famílias, na Filadélfia, que o levará aos Estados Unidos de 23 a 27 de setembro, o Santo Padre assegurou que “a fé nos diz que esta aliança entre o homem e a mulher foi querida por Deus desde a criação”. “Não só para velar pelos interesses íntimos da família: a eles confiou o mundo e o projeto de domesticá-lo; portanto, o que ocorre entre o homem e a mulher repercute em todo a criação, como vemos no relato do pecado original”.

Não obstante, “o rechaço da bênção de Deus leva a fatalidade de um delírio de onipotência que arruína tudo. É o que chamamos ‘pecado original’. E todos vamos ao mundo com a herança desta enfermidade”, disse na Catequese.

Francisco denunciou que a atual sociedade está “administrada pela tecnocracia econômica” e que “a subordinação da ética à lógica do benefício dispõe de abundantes meios e de um apoio midiático enorme”.

Nesta situação, “uma nova aliança do homem e da mulher é não só necessária, mas também estratégica para a emancipação dos povos da colonização do dinheiro”.

“Esta aliança deve voltar a orientar a política, a economia e a convivência civil”, porque “ela decide a habitabilidade da terra, a transmissão do sentimento da vida, os laços de união da memória e da esperança”.

“Desta aliança, a comunidade conjugal-familiar do homem e da mulher é a gramática generativa, o ‘nó de ouro’, poderíamos dizer”, afirmou Francisco.

Improvisando, o Santo Padre acrescentou: “A família está no início, na base desta cultura mundial que nos salva de tantos ataques, tantas destruições, tantas colonizações como a do dinheiro, ou das ideologias que ameaçam tanto o mundo. A família é a base para defender-se”.

O Papa destacou que a criação de Deus “não é uma simples promessa filosófica: é o horizonte universal da vida e da fé. Não existe um desenho divino diferente da criação e de sua salvação”.

O Pontífice explicou que “não estamos malditos nem abandonados a nós mesmos” e fez alusão às palavras do Gêneses: “Eu porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela”. “São as palavras que Deus dirige à serpente enganosa. Mediante estas palavras Deus marca a mulher com uma barreira protetora contra o mal, a qual pode recorrer se quiser cada geração”.

“Quer dizer que a mulher leva uma bênção secreta e especial para defender sua criatura do Maligno, como a Mulher do Apocalipse que corre para esconder o filho do Dragão e Deus a protege”.

O Papa denunciou que “existem muitos lugares comuns, às vezes inclusive ofensivos, sobre a mulher tentadora que inspira o mal. Entretanto, há espaço para uma teologia da mulher que esteja à altura desta bênção de Deus para ela e para as gerações!”.

No último lance de sua Catequese, Francisco sublinhou que “a misericordiosa proteção de Deus em relação ao homem e à mulher, em cada caso, nunca falta para ambos” e mencionou como Deus lhes fez túnicas de pele para tampar-se. “Este gesto de ternura significa que também nas dolorosas consequências de nosso pecado, Deus não quer que permaneçamos nus e abandonados ao nosso destino de pecadores. Esta ternura divina, este cuidado por nós, vemo-la encarnada em Jesus de Nazaré, filho de Deus ‘nascido de mulher’”.

“Cristo nascido de mulher, de uma mulher, é a carícia de Deus sobre novas chagas, enganos, pecados, mas Deus nos ama como somos e quer nos levar adiante com nossos projetos e a mulher é a mais forte que leva adiante este projeto”.

Ao finalizar, o Santo Padre afirmou que “se tivermos fé suficiente, as famílias dos povos da terra se reconhecerão nesta bênção” e “de qualquer forma, quem se deixe comover por esta visão, em cada povo, nação, religião a que pertença, que fique em caminho conosco”. “Será nosso irmão e nossa irmã, sem fazer proselitismo; caminhamos juntos e abençoados, com esta proposta de Deus de sermos todos irmãos na vida em um mundo que balança e nasce da família, da união do homem e da mulher”.

Ao saudar os fiéis congregados na Praça de São Pedro, dirigiu-se aos jovens, doentes e recém-casados. “Ontem celebramos a memória litúrgica da Devota Virgem Dolorosa. Invoquem a Mãe de Deus, queridos jovens, para sentir a doçura de seu amor materno; vocês, queridos doentes, rezem a ela nos momentos da cruz e do sofrimento; e vocês, queridos recém-casados, olhem-na como o modelo do caminho conjugal de dedicação e fidelidade”.