“A inquisição é um tema normalmente utilizado nas aulas de história para denegrir a imagem da Igreja Católica”, afirmou o padre João Paulo Dantas, que é doutor em Teologia. Segundo ele, existem vários fatos que não são levados em conta na apresentação desse tema, principalmente, no meio acadêmico. Contrariando a tendência de criar uma lenda negra sobre a Igreja da época da Inquisição, sobretudo a sua versão espanhola, O perito brasileiro destaca a necessidade de tomar em conta o contexto histórico e político para distinguir com clareza as esferas da ação religiosa e da ação do poder civil durante o processo da inquisição”.

Em entrevista exclusiva a ACI Digital, o Pe. Dantas explicou que a inquisição dentro da Igreja nasceu no século XIII com o Papa Gregório IX, com o objetivo de limitar os danos causados pelos hereges na França. Eles atacavam lugarejos e cidades, incitavam a violência, a desordem social, a depredação, o desrespeito às autoridades civis e eclesiásticas e o suicídio em massa.

“Esse fato provocou a reação da população não herética, a violência se deflagrou e o poder civil precisou intervir de forma muitas vezes drástica. Os tribunais foram sendo criados pelo poder civil com a ajuda dos clérigos locais, mas esses tribunais se revelaram pouco atentos aos direitos dos réus, às questões das provas e muito suscetíveis às pressões das populações que se sentiam inseguras com a presença massiva dos grupos de hereges”, afirmou.

Ele destacou que à inquisição espanhola, que se prolongou até o século XIX, a mais ‘sangrenta’ teve uma dinâmica de conduta marcada pelo governo monárquico.

“Houve muitos abusos, pessoas inocentes foram condenadas injustamente, muito mais por questões políticas do que religiosas. Os Papas se opuseram a essa inquisição. Existe uma vasta documentação que comprova isso, várias cartas foram escritas por eles aos reis e inquisidores”, contou.

Padre Paulo acredita que muita coisa ainda precisa ser dita sobre esse tema e que é preciso reestudar as fontes, os documentos para um aprofundamento histórico.

“Existem arquivos que podem colaborar com tais pesquisas. É importante revisitar o fato da maneira mais imparcial possível, evitando todo tipo de suposição e exageros de cunho religioso, polêmico, ideológico e contrário à Igreja Católica. Não é certo ter uma orientação fechada a objeções, na verdade ainda existe bastante espaço para o debate. Um aprofundamento histórico a partir das fontes primárias será benéfico para todos”.

“Gostaria que esse tema fosse mais debatido nas paróquias, nos movimentos e pastorais, e também no meio acadêmico, para que a verdade brilhe”, motivou o sacerdote.