“Eu me considero um milagre de Deus. Há dez meses eu estava comendo e dormindo no lixo e de repente as coisas mudaram. Estava vegetando, minha vida era só o crack e o álcool. Chegava a ficar cinco dias acordado, sem conseguir dormir. Não agüentava mais, minha mente não queria mais, mas meu corpo pedia a droga. Eu sempre rezava e acreditava que Deus iria me tirar daquela situação e mudar a minha história”, disse José Ricardo Adão, que em Fevereiro iniciou seu tratamento na Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá (SP).

José começou a beber na adolescência. Com aproximadamente 19 anos, iniciou o uso da maconha, depois  passou para a cocaína e para o crack. Ele acredita que o principal motivo de ter entrado no mundo das drogas foi a difícil convivência com seu pai.

“Quem não tem um relacionamento bom em casa, vai procurar outras coisas na rua. Meu pai, que já é falecido, era alcoólatra e me batia muito. Eu cheguei a morar na rua um tempo, mesmo antes de começar a usar drogas, para fugir de casa”, disse.

Hoje, com 44 anos, e um casal de filhos, de 17 e 18 anos, José, que é paulista, busca recomeçar.

“Eu já havia tido uma situação boa, trabalhei em ótimos lugares, fiz vários cursos, mas a droga foi tirando minha vida aos poucos. Quando percebi já tinha perdido tudo. Na primeira vez em que fui parar nas ruas por causa das drogas, fiquei fora de casa durante dois anos. Quando minha família me deu uma oportunidade de voltar, eu comecei a cometer os mesmos erros, achando que teria um resultado diferente. Na segunda vez, as drogas me fizeram ficar longe de casa por quase quatro anos. A rua é só dor, só temos sofrimento. Eu vi muita gente morrer após consumir alimentos do lixo com veneno de rato”, recordou.

A recuperação na Fazenda da Esperança surgiu pelo auxílio de sua família.

“Um dia, minha filha pediu para minha ex-esposa me procurar, pois fazia anos que ela não me via e queria saber como eu estava, para passar o Natal comigo. Elas me encontraram na rua, com um saco nas costas, pegando reciclagem. Eu falei para ela que eu queria ajuda, disse que não aguentava mais, pedi pelo ‘Amor de Deus’ para ela não desistir de mim. Ela perseverou em me ajudar e eu também fiz a minha parte”, disse.

Hoje, a família ajuda José no resgate de sua vida.

“Meus filhos escrevem para mim dizendo que desejam que eu conheça mais a história deles. Foram muitos ‘Dias dos Pais’, ‘Natais’ e ‘Páscoas’ que eles passaram sozinhos”, disse.

Na Fazenda, ele encontrou um local de acolhimento com amor.

“Eu nunca conheci um lugar como esse aqui. Já havia passado por outra clínica onde nos batiam, amarravam e davam uma injeção por cima da nossa roupa. O dependente químico caía e ficava babando igual a um louco. Eu fiquei com muito trauma de centros terapêuticos. Quando cheguei aqui achei que aconteceria a mesma coisa, e falei para a minha família que quando eles fossem embora o comportamento deles iria mudar. Mas aqui foi totalmente diferente. Eu tenho agora uma alegria muito grande no coração”, testemunhou.

A fé tem sido fundamental para a recuperação de José, porque lhe ajuda a superar os desafios.

“Quando eu cheguei e vi os homens cantando e louvando a Deus com um grande brilho no olhar eu comecei a querer fazer parte para sentir a alegria que eles sentiam. Busquei participar e me envolver nas coisas de Deus, ser obediente a tudo o que era proposto. Aqui nós não somos obrigados a nada, somos livres para escolher permanecer. Essa foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida, o melhor caminho. Estou comemorando outro aniversário agora. Deus está me proporcionando tanta coisa, me devolveu a alegria. Quando eu estava na rua era uma pessoa frustrada e arrogante. Deus trabalhou em mim e está também agindo em meus familiares e amigos. O sim que eu dei para a recuperação mudou a minha vida”, celebrou José.

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