Os processos de nulidade matrimonial não devem entrar “no âmbito dos negócios”, advertiu nesta quarta-feira o Papa Francisco durante o breve encontro que teve com os participantes do curso sobre o matrimônio organizado pela Rota Romana. O Pontífice reafirmou que os fiéis precisam de procedimentos breves e sentenças justas.

O Santo Padre recordou que no Sínodo extraordinário sobre a família, realizado em outubro, expressou-se a preocupação por simplificar o processo, por uma questão de justiça com as pessoas que esperam.

“Justiça: quantas pessoas esperam uma sentença durante anos. E por isso já antes do Sínodo constitui uma Comissão que ajudasse a preparar diversas possibilidades nesta linha: uma linha de justiça, mas também de caridade, porque há muita gente que necessita de uma palavra da Igreja sobre a sua situação matrimonial, seja ela sim ou não, mas que seja justa”, expressou na sala Paulo VI, antes de presidir a Audiência Geral na Praça de São Pedro.

O Papa assinalou que alguns procedimentos são longos e pesados “que não favorecem e o povo acaba deixando”. Recordou que ao Tribunal interdiocesano de Buenos Aires (Argentina), chegavam pessoas que tinham que percorrer até 240 quilômetros. “Não se pode, é impossível imaginar que pessoas simples, comuns, vão ao Tribunal, tenham que fazer uma viagem e perder dias de trabalho”, expressou.

Estas pessoas, indicou, “dizem: ‘Deus me entende, e sigo adiante assim, com este peso na alma’. E a mãe Igreja deve fazer justiça e dizer: ‘Sim, é verdade, o teu casamento é nulo. Não, o teu matrimônio é válido’. Mas justiça é dizê-lo. Assim eles podem seguir adiante sem esta dúvida, este escuro na alma”.

Nesse sentido, Francisco agradeceu este tipo de cursos. “É a Mãe Igreja que vai procurar os seus filhos para fazer justiça. E é necessário estar muito atentos para que os processos não entrem no âmbito dos negócios: e não falo de coisas estranhas. Também aconteceram escândalos públicos”.

“Uma vez tive que despedir uma pessoa do Tribunal, faz tempo, que dizia ‘10 mil dólares e faço para você os dois processos: o civil e o eclesiástico’. Por favor, isto não! Quando o interesse espiritual está ligado ao econômico, isso não é de Deus! A mãe Igreja tem tanta generosidade para poder fazer justiça gratuitamente, como gratuitamente fomos justificados por Jesus Cristo. Este ponto é importante: separar as duas coisas”, expressou.

“Obrigado por terem vindo a este curso: deve-se estudar e se deve seguir em frente e procurar sempre a salus animarum, que não necessariamente se deve encontrar fora da justiça, mas também com justiça. Muito obrigado e lhes peço que rezem por mim. Obrigado”, concluiu.