Os bispos reunidos nos Círculos menores pediram sérias mudanças na "Relatio post disceptationem" (RPD), documento de trabalho que resume as intervenções da primeira semana do Sínodo da Família, em vistas à emissão da "Relatio Synodi" (Rs), documento conclusivo da Assembleia que será enviado às dioceses do mundo para preparar o Sínodo de 2015.

Assim o expressaram durante a décima segunda Congregação Geral, onde se apresentaram os relatórios dos dez círculos menores, divididos por línguas, dois em francês, três em inglês, três em italiano e dois em espanhol.

Durante a congregação, os padres sinodais expressaram sua “perplexidade pela publicação” do PRD, “um documento de trabalho que não expressa uma opinião única e compartilhada por todos os padres sinodais”.

Assim, no grupo ibérico A, lamentou-se “a péssima tradução do documento” e “se fez notar que o primeiro que devia aparecer era uma saudação a todas as famílias cristãs que vivem com fidelidade, amor e sacrifício o evangelho da família e que são testemunhas de Cristo diante de toda a sociedade”.

Por isso, pediram que se anime “todas as paróquias e movimentos laicos que unidos a elas trabalham com e em favor das famílias para que promovam nos lares a vivência do evangelho da família”.

Por sua parte, o grupo ibérico B advertiu que a RPD “não enfatizava suficientemente a mensagem positiva do evangelho da família, provavelmente porque reflete principalmente as preocupações pastorais das conferências episcopais sobre as sombras que pairam sobre a família e o mundo atual”.

“Estamos conscientes da finalidade nitidamente pastoral e não acadêmica do sínodo, do qual se espera um novo impulso decidido à pastoral familiar e um apoio a todos os leigos, famílias e movimentos que se encontram neste caminho. Embora esta seja a finalidade –advertiram os bispos- acreditamos que seja indispensável insistir sobre os elementos doutrinais básicos que evitem parcializações ou inclusive magistérios paralelos”.

Nesse sentido, recordaram que a RPD é “somente um instrumento de trabalho” e, portanto, se pode melhorar, “aberto às necessárias precisões, e para o círculo foi um instrumento de trabalho útil”.

Assim, advertiram que faltou dar ênfase a “temas importantes como o aborto, os atentados contra a vida, o amplo fenômeno da adoção, as decisões em consciência dos esposos, assim como um maior esclarecimento sobre o tema da homossexualidade”.

Ademais, na assembleia se pediu prestar “mais atenção aos divorciados que não voltaram se casaram novamente, testemunhas às vezes heroicas da fidelidade matrimonial”. Deve haver, indicaram, “uma maior orientação cristocêntrica, assim como uma maior ênfase no vínculo entre os sacramentos do matrimônio e o batismo”.

Do mesmo modo, reiteraram a “impossibilidade” de equiparar as uniões homossexuais ao matrimônio entre homem e mulher. Disseram que se deve acompanhar pastoralmente as pessoas com tendência homossexual protegendo sua dignidade humana, mas “sem que isso pareça uma aprovação, por parte da Igreja, de sua orientação e sua forma de vida”.

Na Sala também se apresentaram duas posturas sobre a comunhão para os divorciados em nova união. A primeira assinalou que não se deve modificar a doutrina, enquanto a segunda “falou de abrir-se à possibilidade de conceder a comunhão, a partir da perspectiva da compaixão e da misericórdia, mas só se forem cumpridas umas condições determinadas”. Ademais, se pediu um aprofundamento no conceito de "comunhão espiritual", para que seja avaliado e, eventualmente, promovido e difundido.

Do mesmo modo, os círculos menores afirmaram que a Igreja “deve ser uma casa acolhedora para todos” para que ninguém se sinta rejeitado. Entretanto, pediram maior clareza para evitar “confusões, vacilações e eufemismos na linguagem”.

Estes debates continuarão até a redação da "Relatio Synodi" (Rs), documento conclusivo e definitivo da Assembleia que será enviado a todas as dioceses para preparar a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos que se realizará de 4 a 25 de outubro de 2015 sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.