Meriam Ibrahim, a mulher que tinha sido condenada à morte no Sudão –país de maioria muçulmana– e que foi libertada na segunda-feira e depois detida novamente na terça-feira no aeroporto de Cartum com a sua família quando tentava viajar aos Estados Unidos, é acusada agora de tentar sair do país com documentos falsos.

A jovem mãe cristã foi detida junto com os seus dois filhos e o seu marido Daniel Wani, originário do Sudão do Sul (país de maioria cristã que se separou do Sudão em 2011) e tem a nacionalidade norte-americana, razão pela qual o Departamento de Estado dos Estados Unidos interveio no caso.

Em declarações à rede BBC, o advogado de Meriam, Elsherif Ali, indicou que as autoridades do Sudão acusam a mulher de ter obtido documentos falsos para sair do país, razão pela qual foi detida no aeroporto, apesar da embaixada do Sudão do Sul afirmar que os documentos são verdadeiros.

Um funcionário do ministério de relações exteriores do Sudão, Abdullahi Alzareg, disse à BBC que Meriam é do Sudão e não deveria apresentar um passaporte do Sudão do Sul com visto para os Estados Unidos, países que se separaram faz três anos.

Com relação a isso e tentando fazer uma analogia, o funcionário disse que “todo mundo sabe que ela é sudanesa. Sabemos que é sudanesa… imagine a um cidadão britânico que quer viajar para qualquer lugar e aparece no aeroporto com um documento de emergência da Costa Rica”.

Sobre estas acusações, o marido de Meriam, Daniel Wani, disse à agência AFP que “estamos preocupados, por isso queremos sair daqui o mais rápido possível”.

Alguns meios de imprensa assinalam que esta situação poderia gerar tensões diplomáticas entre os Estados Unidos e Sudão.

Meriam foi condenada à morte depois de ser acusada de renunciar ao Islã por três pessoas que fraudulentamente asseguraram ser seus irmãos e sua mãe. A jovem assegura ser cristã e ter sido criada como tal por sua verdadeira e falecida mãe, após ter sido abandonada pelo seu pai muçulmano quando tinha apenas 6 anos.

As autoridades islâmicas a condenaram também a 100 chicotadas pelo crime de adultério, pois seu casamento com Daniel Wani não é reconhecido como tal pela lei muçulmana.
Depois de ser advertida por um religioso muçulmano do perigo para sua vida e considerar converter-se ao Islã, Meriam assegurou: "sou cristã e continuarei sendo cristã".

Em uma das visitas que Daniel realizou à a prisão, Meriam lhe disse que “me recuso a mudar (de religião). Não vou renunciar ao cristianismo só para que possa viver. Sei que poderia continuar viva me convertendo em muçulmana e seria capaz de velar por nossa família, mas preciso ser honesta comigo mesma”.