Na sua catequese semanal, durante a Audiência Geral realizada hoje na Praça São Pedro, o Papa Francisco assegurou que a Quaresma é um tempo forte, no qual estamos chamados a viver, como elementos essenciais, uma fé autêntica, conversão e abertura de coração aos irmãos.

Continuando, a íntegra da Catequese do Papa:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia

Começa hoje, Quarta-Feira de Cinzas, o itinerário quaresmal de quarenta dias que nos conduzirá ao Tríduo pascal, memória da paixão, morte e ressurreição do Senhor, coração do mistério da nossa salvação.

A Quaresma nos prepara para este momento tão importante, por isto é um tempo “forte”, um ponto de reviravolta que pode favorecer em cada um de nós a mudança, a conversão. Todos nós temos necessidade de melhorar, de mudar para melhor.

A Quaresma nos ajuda e assim saímos dos hábitos cansados e do preguiçoso costume ao mal que nos engana. No tempo quaresmal, a Igreja nos dirige dois importantes convites: adotar uma consciência mais viva da obra redentora de Cristo; viver com mais empenho o próprio Batismo.

A consciência das maravilhas que o Senhor fez para a nossa salvação dispõe a nossa mente e o nosso coração a uma atitude de gratidão para Deus, por quanto Ele nos deu, por tudo aquilo que realiza em favor do seu povo e de toda a humanidade.

Daqui parte a nossa conversão: essa é a resposta grata ao mistério maravilhoso do amor de Deus. Quando nós vemos este amor que Deus tem por nós, sentimos a vontade de nos aproximarmos Dele: esta é a conversão.

Viver a fundo o Batismo – eis o segundo convite – significa também não se habituar às situações de degradação e de miséria que encontramos caminhando pelos caminhos das nossas cidades e dos nossos países.

Há o risco de aceitar passivamente certos comportamentos e de não se surpreender diante das tristes realidades que nos cercam. Nós nos acostumamos com a violência, como se fosse uma notícia cotidiana deduzida; habituamo-nos aos irmãos e irmãs que dormem pelas ruas, que não têm um teto para abrigar-se.

Habituamo-nos aos refugiados em busca de liberdade e dignidade, que não são acolhidos como se deveria. Habituamo-nos a viver em uma sociedade que pretende fazer pouco de Deus, na qual os pais não ensinam mais aos filhos rezar nem fazer o sinal da cruz.

Eu pergunto a vocês: os vossos filhos, as vossas crianças sabem fazer o sinal da cruz? Pensem. Os vossos netos sabem fazer o sinal da cruz? Vocês ensinaram a eles? Pensem e respondam no vosso coração. Sabem rezar o Pai Nosso? Sabem rezar à Nossa Senhora com a Ave Maria? Pensem e respondam. Este costume a comportamentos não cristãos e de comodismo narcotiza o nosso coração!

A Quaresma vem a nós como tempo providencial para mudar a rota, para recuperar a capacidade de reagir diante da realidade do mal que sempre nos desafia. A Quaresma seja vivida como tempo de conversão, de renovação pessoal e comunitária mediante a aproximação a Deus e a adesão confiante ao Evangelho.

Deste modo, permite-nos também olhar com olhos novos para os irmãos e as suas necessidades. Por isto a Quaresma é um momento favorável para se converter ao amor para com Deus e para com o próximo; um amor que saiba fazer propriamente a atitude de gratuidade e de misericórdia do Senhor, que “fez-se pobre para enriquecer-nos com a sua pobreza” (cfr 2 Cor 8, 9).

Meditando sobre os mistérios centrais da fé, a paixão, a cruz e a ressurreição de Cristo, perceberemos que o dom sem medida da Redenção nos foi dado por iniciativa gratuita de Deus.

Dar graças a Deus pelo mistério do seu amor crucificado; fé autêntica, conversão e abertura de coração aos irmãos: estes são elementos essenciais para viver o tempo da Quaresma.

Neste caminho, queremos invocar com particular confiança a proteção e a ajuda da Virgem Maria: seja Ela, primeira crente em Cristo, a nos acompanhar nos dias de oração intensa e de penitência, para chegar a celebrar, purificados e renovados no espírito, o grande mistério da Páscoa do seu Filho.