A preocupação  de São Francisco de Assis com a pobreza era secundária em sua vida e resultou da sua confiança absoluta no amor por Deus, explicou o padre o  padre Dominicano Augustine Thompson ao grupo ACI no dia 21 de março.

"A imagem usual de Francisco e de pobreza está desvirtuada ... a pobreza é importante, mas é secundária para Francisco, que vivia a dependência absoluta de Deus," disse o sacerdote em Berekeley, estado da Califórnia, EUA.

Segundo o dominicano, enquanto muitos associam o santo do século 13 com a pobreza, ele mesmo escreveu pouco sobre isso, e quando o fez, estava apontando para a humildade que vemos na Encarnação e morte de Cristo.

"A única vez que ele fala sobre a pobreza em si - ele menciona muito raramente em seus próprios escritos - ele oferece como o exemplo perfeito de pobreza o fato que a segunda pessoa da Santíssima Trindade se tornou um ser humano e assumiu a humildade da condição humana, e então se ofereceu na cruz, e oferece seu corpo para nós na Eucaristia".

"A Eucaristia e a pobreza de São Francisco são duas partes de uma mesma coisa", disse o padre Thompson, autor do livro : "Francisco de Assis: Uma Nova Biografia" lançado em 2012.

Embora dedicado ao serviço aos mais pobres dos pobres, São Francisco também "vê a Eucaristia como digna do máximo respeito, como ele próprio disse: o maior ato de humildade e pobreza é quando Deus se dá como alimento para as pessoas comuns."

Assim, o santo "tinha opiniões muito fortes" sobre "a celebração adequada" da missa, e também "estava preocupado que os cálices, corporais e panos de altar fossem adequados e bonitos."

Antes de ver-se ofendido pelo uso de materiais preciosos na celebração  da Missa e adoração da Eucaristia, São Francisco, na verdade, queria garantir que seus frades tivessem vasos litúrgicos de prata para oferecer aos sacerdotes "que não tivessem coisas mais adequadas para manter a Eucaristia dentro".

Pe. Thompson explicou que "não há evidências em nenhum lugar dos primeiros escritos sobre Francisco, ou em qualquer um de seus próprios escritos, que ele foi criticado pelo papado por ter grandes edifícios, por exemplo. Suas ideias sobre a pobreza não são políticas nesse sentido, e elas são muitas vezes representadas desta maneira hoje em dia".

Foi neste contexto que o padre Thompson explicou como ele entendeu comentário do Papa Francisco aos representantes da mídia no dia 16 março, dizendo: "como eu gostaria de uma Igreja pobre  para os pobres."

"Eu acho que é sua brilhante opinião sobre o título de "servus servorum Dei".

Este título atribuído aos Papas - geralmente traduzido como "servo dos servos de Deus" - originou-se com São Gregório Magno, em torno do ano 600. Padre Thompson acrescenta ainda que a melhor tradução de "servus" é o termo mais radical "escravo".
"O escravo é o mais pobre, é o mais baixo que se pode chegar, e os cristãos, não se importam com os seus recursos materiais, pois são chamados a ser, em última análise, escravos de Deus. São Paulo diz isso, que a liberdade vem de ser um escravo de Cristo", declarou.

"É assim que eu acho que o Papa Francisco entende a pobreza, e ele quer ser escravo dos escravos de Deus. Ele está usando o estilo de linguagem- franciscana, mas eu acho que é apenas um brilho sobre a forma como ele entende um dos títulos papais".

"Eu não acho que isso signifique coisas do tipo: ‘ele vai vender as coleções de arte do Vaticano’, mas eu suspeito que vai se sentir muito desconfortável por viver em um edifício construído pelos Papas do Renascimento".

O padre Thompson concluiu que "se há alguma coisa sobre a vida inteira do Papa Francisco que se ressalta, é a sua tentativa de colocar-se a serviço dos outros, e que também se expressa em sua vida de simplicidade".