Fazendo uma reflexão sobre as repercussões e as medidas que foram tomadas ante os dolorosos casos de abusos sexuais cometidos por alguns membros do clero no Chile, o Arcebispo de Santiago assegurou que "ser pecadores não deve nos inibir da nossa missão que é anunciar a Jesus Cristo".

Em entrevista concedida ao jornal Encuentro e publicada nesta terça-feira 11 de dezembro, o Arcebispo reconheceu que afetou muito à Igreja que alguns sacerdotes conhecidos tenham sido os que se envolveram nestes casos.

"Isso faz com que tenhamos que pensar bem sobre a responsabilidade pessoal que os presbíteros e os clérigos têm frente a esta realidade. Porque há o dano objetivo e também o escândalo que produz. Isto trouxe uma repercussão profunda".

O Prelado assegurou que "também é uma ocasião para definir melhor quem é o fundamento da nossa fé. O fundamento da fé não é nem um sacerdote, nem um bispo, nenhuma pessoa: é Jesus Cristo".

"Desde a experiência negativa destes fatos extremamente dolorosos, podemos aprofundar nossa fé, colocando-a onde realmente deve estar. Se consigo encontrar-me com Jesus Cristo, vou encontrar uma motivação que supera imensamente o acontecimento –o cronos– a cronologia. Jesus Cristo me leva a descobrir a graça e a alegria da fé", explicou.

Dom Ricardo Ezzati disse logo que a mensagem dos Bispos na sua última carta pastoral "não esquece que somos pecadores, mas o Evangelho vai muito além da nossa limitação e pecado. Ser pecadores não deve nos inibir da nossa missão que é anunciar a Jesus Cristo. Os acontecimentos que a opinião pública conhece nos doem imensamente, de modo particular, que alguns membros da Igreja e do clero tenham cometido abusos".

Sobre a reparação que se deve dar aos afetados por estes casos, o Prelado disse que esta é "uma responsabilidade pessoal e comunitária. Teologicamente, o pecado pessoal não afeta somente a mim, e a minha relação com Deus. Sendo eu, parte, célula do corpo de Cristo, que é a Igreja, meu pecado afeta também à comunidade, portanto, quando falamos de conversão e de reparação devemos ter em conta estas duas dimensões".

"Ante os casos que foram julgados pela Igreja, detectando e denunciando o pecado e o crime, além do civil, restitui a verdade e é um ato que por si mesmo repara o mal feito. Reparar significa pôr no justo lugar as coisas que foram mal feitas. E dizer que o abuso é um abuso, que é um pecado muito grave, um crime, é sem dúvida alguma, um gesto de reparação".

"O segundo, assumir a responsabilidade de que os fatos cometidos por uma pessoa danificaram o corpo da Igreja, exige que o ato reparatório tenha presente à comunidade. E como podemos fazer isso? Por exemplo, com a prevenção, evitando por todos os meios que o mal volte a ser repetido".

"Diria, com humildade e verdade, que estivemos muito atentos a esse compromisso. Podemos mencionar a Comissão Episcopal de Prevenção e outras iniciativas", precisou logo.

O Arcebispo sublinhou também que "a tarefa própria da comunidade eclesial é estar perto daqueles que sofreram abusos, e não só de parte dos membros da Igreja Católica. Poderia citar uma grande quantidade de instituições da nossa Igreja que estão atendendo essa realidade".

Seguidamente fez uma distinção entre reparação e indenização. "A segunda reduz a reparação só ao âmbito pecuniário. A reparação é muito mais que isso. O que a Igreja quer é abranger uma reparação muito mais ampla. Em todo caso, no âmbito do que pode ser a indenização, a Igreja se remete às leis do Estado", explicou.

O Arcebispo aproveitou também para exortar a que no Natal "permitamos que em cada um de nós e na nossa comunidade nasça Jesus Cristo. Que possamos ter um encontro com ele, como o tiveram os pastores ou os magos do Oriente".

"Porque desse encontro brotará um novo dinamismo de vida, que nos conduz à conversão, a uma maior comunhão, a uma vivência muito mais comunitária e mais solidária da nossa fé", concluiu.