Hasni Abidi, um dos mais reconhecidos intelectuais muçulmanos da Europa, assinalou em um artigo publicado pelo jornal francês Le Monde que a partida dos cristãos do Médio Oriente constitui o fim da história para o mundo árabe.

No artigo recolhido pelo Osservatore Romano na edição de 13 de janeiro, Abidi, que é Diretor do Centro de Estudos e Investigação do Mundo Árabe e Mediterrâneo (CERMAM), com sede em Genebra (Suíça), afirma que "dizer que a presença dos cristãos deve ser 'tolerada' no mundo árabe é, no fundo, profundamente injusto, porque eles sempre pertenceram a esta terra que os viu nascer e crescer, terra de seus ancestrais e da Bíblia".

Abidi assinala também que os cristãos "não são uma minoria religiosa vinda de fora para suscitar compaixão ao vê-los. Estão em seus países e devem ficar. Sua partida é o fim de nossa história e o início de todas as derivas".

Depois de criticar o extremismo islâmico contra as comunidades cristãs no Oriente Médio, Abidi afirma que "alguns analistas não medem a carga de suas declarações quando dizem, por exemplo, que o fim do colonialismo teria feito que os cristãos perdessem preciosos apoios, ou como quando apresentam a estes últimos como os 'ocidentalizados' do mundo árabe".

Tais apreciações ignoram "a importância do aporte ideológico dos cristãos à sociedade do Meio Oriente. Significa esquecer que as elites cristãs conceberam e sustentaram o belo projeto da unidade árabe: a noção de arabicidade, forjada em parte por intelectuais cristãos".

O perito questiona logo: "como se pode promover a coexistência das culturas se, ao interior das fronteiras, está em vigor o culto da maioria e da religião dominante quando não do único partido?"

"Que credibilidade podem ter os chamados incessantes e repetitivos da Organização da conferência islâmica e da Organização islâmica para a ciência, a educação e a cultura, que se erigem como defensores dos muçulmanos que vivem no Ocidente, quando estas duas organizações permanecem em silêncio culposo ante os atropelos que os cristãos sofrem no Oriente?"

Abidi questiona uma vez mais a credibilidade destas instituições "quando na prática os governos dos países árabes são incapazes de tutelar seus concidadãos de confissão cristã ou citam perante a justiça homens e mulheres que escolheram um caminho distinto ao da maioria".

"Poucas são as vozes, como a do príncipe saudita Talal Ibn Abdel Aziz, irmão do rei Abdallah, que se levantam para dizer que a partida dos cristãos poria em risco a democracia e a modernidade do mundo árabe".

Finalmente Hasni Abidi ressalta que "seria bom ter mais destas vozes se queremos suscitar um debate indispensável. O déficit democrático é em grande parte responsabilidade da confusão atual. E o Ocidente, que não se atreve a ferir seus aliados, é culpado por suas más companhias".