O jornalista Peter Seewald, que esperou cinco anos para entrevistar Bento XVI, considera que a visita do Papa a Fátima, em Maio deste ano, mostrou a sua faceta espiritual, que tem mudado a imagem dura e racional que lhe é atribuída por muitos. O autor do livro-entrevista «Luz do Mundo», lançado mundialmente a 23 de Novembro, disse em Lisboa que o capítulo dedicado a Fátima, na obra, condensa a “condição de crente” dos católicos e uma preocupação principal do próprio Joseph Ratzinger.

Segundo a nota da Agência Ecclesia do Episcopado português, Seewald, que já por duas vezes entrevistara o atual Papa, quando ainda era cardeal, diz que “algo aconteceu” nos últimos 10 anos com a espiritualidade de Bento XVI – que se assume como racionalista e diz de si não ser um “místico”.

“Aqui concretizou, pegou na mensagem de Fátima, que não é do passado”, refere, destacando as quatro palavras-chave sublinhadas pelo Papa: fé, amor, esperança e conversão.
A relação com o maior Santuário português é um dos temas em destaque no livro-entrevista «Luz do Mundo».

“No nosso racionalismo, e perante o poder das ditaduras em ascensão, Ele (Deus, ndr) mostra-nos a humildade da Mãe, que aparece a crianças pequenas a falar de Fé, esperança, amor e penitência”, precisa Bento XVI, para quem os homens encontra em Fátima, “por assim dizer, uma janela”.

Em Fátima, destaca a matéria da Agência Ecclesia, o Papa deixou votos de que “os sete anos que nos separam do centenário das aparições” possam “apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade”.

Na entrevista agora publicada em Portugal, Bento XVI recusa, contudo, estar a falar em qualquer nova aparição ou momento miraculoso.

De passagem por Portugal, para apresentar a obra, Seewald encontrou-se com seminaristas e jornalistas, da Agência Ecclesia e do semanário «Voz da Verdade», revelando que levou “cinco anos” até poder concretizar a sua ideia de entrevistar o Papa.

Peter Seewald faz questão de afirmar que as perguntas e a iniciativa desta entrevista são da sua exclusiva responsabilidade, “um peso” e um “privilégio” que se concretizou em seis horas de conversa, no último Verão, na residência pontifícia de Castel Gandolfo, arredores de Roma.

“Pouco tempo”, admite, para abordar todos os temas que gostaria e, por isso, todas as palavras da gravação foram já publicadas. Seewald, um antigo militante comunista que regressou à Igreja Católica, diz que funcionou como “um tradutor” entre o mundo secular e o da Igreja, permitindo a muitas pessoas um “novo acesso a este pontificado”.

Entre as questões abordadas, o jornalista admitiu que esperava reacções à declaração do Papa sobre o preservativo e a luta contra a AIDS, mas diz ser necessário “quebrar um círculo construído pelos meios de comunicação social” em volta de Bento XVI. O livro «Luz do Mundo» chegou às livrarias portuguesas a 30 de Novembro e já vendeu cerca de 500 mil exemplares em todo o mundo.