Ao receber as cartas credenciais do novo embaixador da Romênia ante a Santa Sé, Bogdan Tataru- Cazaban, o Papa Bento XVI assinalou esta manhã que este país deve continuar o processo de reconstrução logo depois da queda do comunismo, priorizando o papel da família e a educação para combater a pobreza e fomentar o respeito à vida.

"Há vinte anos, a Romênia decidiu escrever um novo capítulo em sua história", entretanto, acrescentou o Papa, "tantos anos passados sob o jugo de uma ideologia totalitária deixam cicatrizes profundas na mentalidade, na vida política e econômica e nas pessoas. Depois do tempo da euforia da liberdade, sua nação se comprometeu com determinação no processo de reconstrução. Sua entrada na União Européia marcou também um marco importante na busca de uma verdadeira democratização".

Bento XVI explicou que "para prosseguir essa renovação em profundidade se deverá enfrentar novos desafios para evitar que sua sociedade se apóie unicamente na busca do bem-estar e no afã de lucro, conseqüências compreensíveis depois de um período de mais de 40 anos de privações. Mas deverá conseguir que prevaleça a integridade, a honestidade e a sinceridade. Estas virtudes devem inspirar e orientar todos os membros da sociedade".

Seguidamente o Santo Padre indicou que "Romênia está formada por um mosaico de povos. Esta variedade se pode ler como um obstáculo para a unidade nacional, mas também como um enriquecimento de sua identidade e uma de suas características. A gestão do legado do comunismo é difícil devido a que favorecia a desintegração da sociedade e do indivíduo. Obscureceram-se, de fato, os valores autênticos em favor de teorias falsas idolatradas pela razão de Estado. Portanto, agora se deverá que empreender a difícil tarefa de ordenar justamente as questões humanas, fazendo bom uso da liberdade".

"Neste processo de reconstrução de laços sociais a família ocupa o primeiro lugar. Família e educação são o ponto de partida para combater a pobreza e contribuir assim ao respeito de cada pessoa, ao respeito das minorias, ao respeito da família e a vida mesma. São o terreno no qual se aprofundam as raízes dos valores éticos básicos e onde cresce a vida religiosa".

O Papa falou depois da "longa e rica tradição religiosa" da nação, "que também se viu ferida durante as décadas escuras". "Algumas dessas feridas ainda estão vivas. Portanto, precisam ser curadas com meios aceitáveis por cada comunidade. Convém, com efeito, reparar as injustiças herdadas do passado, sem ter medo de fazer justiça".

"Para isso, seria adequado confrontar a situação em dois âmbitos: no nível estatal, mediante a promoção de um diálogo genuíno entre o Estado e os diversos responsáveis religiosos e, em segundo lugar, mediante o fomento de relações harmoniosas entre as diferentes comunidades religiosas". Neste contexto, o Santo Padre se referiu à nova Lei de Cultos e à Comissão Mista, estabelecida em 1998, cujos trabalhos "deveriam reativar-se".

A Igreja Católica, disse o Papa, vê no diálogo ecumênico "um caminho privilegiado para conhecer seus irmãos na fé e construir com eles o Reino de Deus, respeitando a especificidade de cada um. O testemunho da fraternidade entre católicos e ortodoxos, em um espírito de caridade e justiça, deve prevalecer sobre as dificuldades e abrir os corações à reconciliação".

"Neste âmbito, foram numerosos os frutos da histórica visita efetuada uma década atrás por João Paulo II, a primeira em uma nação de maioria ortodoxa. É preciso fortalecer o compromisso de dialogar na caridade e na verdade e promover iniciativas conjuntas. Esse diálogo não deixará de ser fermento de unidade e harmonia, não só em seu país, mas também na Europa", concluiu o Papa Bento XVI.