"Somente o contexto eclesiástico permite à Sagrada Escritura ser compreendida como autêntica palavra de Deus que se faz guia, norma e regra para a vida da Igreja e o crescimento espiritual dos fiéis". Com estas palavras, o Papa Bento XVI recebeu esta manhã a 30 representantes da Pontifícia Comissão Bíblica que acabam de celebrar sua assembléia plenária.

O Pontífice se referiu ao tema da reunião, "A inspiração e a verdade na Bíblia", e destacou sua relevância porque "corresponde não somente ao fiel a não ser a toda a Igreja, já que a vida e a missão da Igreja se fundamentam na Palavra de Deus que é alma da teologia e, ao mesmo tempo, fonte de inspiração de toda a existência cristã. Além disso, a interpretação das Sagradas Escrituras é de importância capital para a fé cristã e para a vida da Igreja".

Segundo o Pontífice, "o estudo científico dos textos sagrados não é suficiente de por si. Para respeitar a coerência da fé da Igreja o exegeta católico deve estar atento a perceber a Palavra de Deus nestes textos, no interior da mesma fé da Igreja".

"A interpretação das Sagradas Escrituras não pode ser somente um esforço científico individual: deve sempre confrontar-se, inserir-se e autentificar-se mercê à tradição viva da Igreja. Esta norma é decisiva para precisar a relação correta e recíproca entre a exegese e o magistério da Igreja", explicou.

O Papa assinalou que "o exegeta católico não nutre a ilusão individualista de que, fora da comunidade dos fiéis se compreendam melhor os textos bíblicos. Em realidade, é verdadeiro o contrário, já que esses textos não se deram aos investigadores para satisfazer sua curiosidade ou facilitar-lhes com argumentos de estudo e investigação. Os textos inspirados Por Deus foram confiados à comunidade de fièis, à Igreja de Cristo, para alimentar a fé e guiar a vida de caridade".

"A Sagrada Escritura -disse o Papa citando a constituição dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II- é a palavra de Deus, enquanto escrita por inspiração do Espírito Santo. A Tradição recebe a Palavra de Deus, encomendada por Cristo e o Espírito Santo aos Apóstolos e a transmite íntegra aos sucessores para que eles, iluminados pelo Espírito da verdade, conservem-na, exponham-na e a difundam fielmente em seu predicação".

O Papa recordou que o Concílio Vaticano II indica "três critérios sempre válidos para uma interpretação da Sagrada Escritura conforme ao Espírito que a inspirou. Em primeiro lugar, é necessário prestar grande atenção ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura já que, por muito diferentes que sejam os livros que a formam, a Sagrada Escritura é uma, devido à unidade do plano de Deus do qual Jesus Cristo é o centro e o coração".

Em segundo lugar, "terá que ler a Escritura no contexto da tradição viva de toda a Igreja. Efetivamente, a Igreja leva em sua Tradição a memória viva da Palavra de Deus e é o Espírito Santo quem brinda à Igreja a interpretação segundo o sentido espiritual".

O terceiro critério é "prestar atenção à analogia da fé, quer dizer à coesão das singulares verdades de fé entre si e com o plano geral da Revelação e a plenitude da divina economia que encerra".