Homilia do Santo Padre João Paulo II na Solenidade da Apresentação do Senhor no Templo

1. "Levaram o Menino a Jerusalém, a fim de O apresentarem ao Senhor, conforme o que está escrito na Lei do Senhor" (Lc 2, 22).

Quarenta dias depois do Natal, a Igreja hoje revive o mistério da Apresentação de Jesus no Templo. Revive-o com a admiração da Sagrada Família de Nazaré, iluminada pela plena revelação daquele "Menino" que como a primeira e a segunda leitura acabaram de nos recordar é o juiz escatológico prometido pelos profetas (cf. Ml 3, 1-3), o "Sumo Sacerdote misericordioso e fiel", que veio para "expiar os pecados do povo" (Hb 2, 17).

O Menino, que Maria e José levam com emoção ao Templo, é o Verbo encarnado, o Redentor do homem da história!

Hoje, comemorando o acontecimento que nesse dia teve lugar em Jerusalém, também nós somos convidados a entrar no Templo, para meditar sobre o mistério de Cristo, unigénito do Pai que, com a sua Encarnação e a sua Páscoa, se tornou o primogénito da humanidade redimida.

Desta maneira, nesta festividade prolonga-se o tema de Cristo luz, que caracteriza as solenidades do Natal e da Epifania.

2. "Luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel" (Lc 2, 32). Estas palavras proféticas são proferidas pelo velho Simeão, inspirado por Deus, quando toma o Menino Jesus nos seus braços. Ele preanuncia, ao mesmo tempo, que "o Messias do Senhor" realizará a sua missão como um "sinal de contradição" (Lc 2, 34). Quanto a Maria, a Mãe, também Ela participará pessoalmente na paixão do seu Filho divino (cf. Lc 2, 35).

Por conseguinte, na solenidade do dia de hoje, celebramos o mistério da consagração: consagração de Cristo, consagração de Maria e consagração de todos aqueles que se põem no seguimento de Jesus por amor do Reino.

3. Enquanto saúdo com fraterna cordialidade o Senhor Cardeal Eduardo Martínez Somalo, que preside a esta celebração, sinto-me feliz por poder encontrar-me convosco, queridos Irmãos e Irmãs que um dia, próximo ou distante no tempo, fizestes o dom total de vós mesmos ao Senhor, na opção da vida consagrada. Enquanto dirijo a cada um a minha saudação repleta de afecto, penso nas grandes coisas que Deus realizou e continua a fazer em vós, "atraindo para si mesmo" toda a vossa existência.

Juntamente convosco louvo ao Senhor, porque Ele é um amor tão excelso e belo a ponto de merecer a dádiva inestimável de toda a pessoa, na imperscrutável profundidade do coração e no desenvolvimento concreto da vida quotidiana, ao longo das várias etapas da vida.

O vosso "eis-me!", modelado em conformidade com o de Cristo e da Virgem Maria, é simbolizado pelos círios que, nesta noite, iluminaram a Basílica do Vaticano. A solenidade de hoje é dedicada de modo particular a vós, que no Povo de Deus representais com singular eloquência a novidade escatológica da vida cristã. Sois chamados a ser luz de verdade e de justiça, testemunhas de solidariedade e de paz.

4. Ainda está viva a recordação do Dia de Oração pela Paz, vivida há dez dias em Assis. Para essa extraordinária mobilização em favor da paz no mundo, eu sabia e sei que posso contar de maneira especial convosco, caríssimas pessoas consagradas. A vós, também nesta ocasião, exprimo a minha profunda gratidão.

Em primeiro lugar, obrigado pela oração. Quantas comunidades contemplativas, inteiramente votadas à oração, batendo de dia e de noite à porta do coração do Deus da paz, cooperam para a vitória de Cristo sobre o ódio, a vingança e as estruturas de pecado!

Além de o fazer com a oração, muitos de vós, caríssimos Irmãos e Irmãs, edificam a paz com o testemunho da fraternidade e da comunhão, difundindo no mundo como fermento o espírito evangélico, que leva a humanidade a caminhar para o Reino dos céus. Obrigado também por isto!

Além disso, em numerosos campos não faltam religiosos e religiosas que oferecem o seu compromisso efectivo pela justiça, trabalhando no meio dos marginalizados, intervindo nas raízes dos conflitos e contribuindo, desta forma, para edificar uma paz substancial e duradoura. Onde quer que a Igreja se encontra comprometida em defender e promover o homem e o bem comum, ali estais também vós, queridos consagrados e estimadas consagradas. Vós que, para serdes de Deus de modo integral, sois também totalmente dos irmãos. Todas as pessoas de boa vontade vos estão muito gratas por isto.

5. O ícone de Maria, que contemplamos enquanto oferece Jesus no Templo, prefigura o ícone da Crucifixão, antecipando também a sua chave de leitura, Jesus, Filho de Deus, sinal de contradição. Com efeito, é no Calvário que alcança o seu cumprimento a oblação do Filho e, unida a esta, também a da Mãe. A mesma espada atravessa ambos, a Mãe e o Filho (cf. Lc 2, 35). A mesma dor. O mesmo amor.

Ao longo deste caminho, a Mater Iesu tornou-se Mater Ecclesiae. A sua peregrinação de fé e de consagração constitui o arquétipo para a peregrinação de cada baptizado. É-o de maneira singular para quantos abraçam a vida consagrada.

Como é consolador saber que Maria está ao nosso lado, como Mãe e Mestra, no itinerário de consagração! Além do plano afectivo, encontra-se ao nosso lado mais profundamente a nível da eficácia sobrenatural, demonstrada pelas Escrituras, pela Tradição e pelo testemunho dos Santos, muitos dos quais seguiram Cristo no caminho exigente dos conselhos evangélicos.

Ó Maria, Mãe de Cristo e nossa Mãe, agradecemos-te o cuidado com que nos acompanhas ao longo do caminho da vida, enquanto te pedimos: neste dia volta a apresentar-nos a Deus, nosso único bem, a fim de que a nossa vida, consumida pelo Amor, seja um sacrifício vivo, santo e do seu agrado.

Assim seja!

2 de Fevereiro de 2002

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